Escassez de chuvas vai prejudicar safra no Piauí

Fevereiro chegou trazendo uma má notícia para o mundo agro. E ela vem do céu. A meteorologia está prevendo um mês com chuvas abaixo da média, principalmente na região do Matopiba, que é uma área brasileira plantada entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. O local é considerado atualmente a última fronteira agrícola e responsável pela produção de quase 10% da safra nacional de grãos.

E um dos motivos para essa escassez de chuvas neste período vem do fenômeno climático La Niña. Trata-se do aquecimento das águas do oceano Atlântico e a continuidade das águas frias no Pacífico, modificaram por completo o panorama climático da safra de verão. Por conta de uma variação intrassazonal na América do Sul, desde dezembro, as pancadas de chuvas estão mais concentradas sobre o Centro-Sul do Brasil, enquanto o Nordeste passa por um período mais seco que o normal.

E a região mais afetada está justamente entre os quatro estados do Matopiba. “O volume de chuva previsto para janeiro naquela região foi bastante expressivo mas, por conta do fenômeno La Niña, ele já foi 60% menor do previsto em dezembro. E agora, já se percebe uma nova redução para este mês de fevereiro, na ordem de 50% do acumulado na média”, informou o climatologista Werton Bastos, acrescentando que tradicionalmente os meses de fevereiro, março e abril, são os mais chuvosos no Nordeste e próprios para a colheita.

Outra explicação para esse período de seca, conforme o climatologista, é que a variação intrassazonal não dura para sempre. Durante boa parte de 2020, observou-se um padrão típico do La Niña com atraso no retorno da chuva na primavera do Sudeste e Centro-Oeste e chuva inferior ao normal no Sul. E, ao longo do mês de fevereiro, voltaremos a observar o cenário clássico do La Niña com enfraquecimento da chuva no Sul, Argentina e Uruguai e aumento das precipitações no Nordeste. A boa notícia é que a partir da segunda quinzena de fevereiro, a chuva forte venha tomar de conta de todo o Nordeste.

“Mas, com chuvas abaixo da média anual”, ressalta Werton, salientando, porém, que padrão mais tardio de chuva na região não é novidade. “No La Niña de 2008, a precipitação acima da média foi observada mais para perto do fim do período úmido. Oito ano depois, em 2016, choveu intensamente sobre o Nordeste em janeiro, enquanto a região Sul passou por um período mais seco”, enfatiza.

E o reflexo disso tudo já pode ser comprovado nos levantamentos mensais de previsão da safra 2020/2021 que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) faz. Na quarta edição, divulgada em janeiro, três dos quatro estados que compõem a Matopiba preveem colher uma safra menor que a do ano passado. Destaque para o Piauí que aparece na tabela com previsão de queda de quase 6%, sendo que a estimativa plantada pelos produtores do Piauí é que seja colhida esse ano uma nova safra recorde.

De acordo com os números, até agora a previsão é de que os agricultores piauienses colham menos de 4,7 milhões de toneladas de grãos, volume esse 5,9% menor que o colhido ano passado que foi de quase 5,1 milhões de toneladas.

Bom Jesus é a região mais afetada

Para Alzir Neto, presidente da Associação Piauiense de Produtores de Soja (Aprosoja), a área mais afetada pela escassez de chuvas é a região de Bom Jesus, município que fica a 600 km ao sul de Teresina, considerada a porta de entrada dos Cerrados Piauienses.

Segundo ele, as pancadas de chuvas naquela região foram muito esparsas. “As manchas de chuvas foram poucas até o momento. Ela não prejudicou de fato a colheita de grãos, principalmente de soja, como um todo. Prejudicou sim, o plantio, porque como não choveu o suficiente para hidratar toda a semente, então, a cultura ficou comprometida. Nessa área devemos ter uma queda de 20% na produção”, destacou o produtor, ressaltando que a expectativa está nos próximos 15 dias. “Acreditamos que na segunda quinzena vá melhorar as chuvas nessa região, conforme, também, previu a meteorologia”, disse.


A soja sozinha representa mais da metade da safra piauiense de grãos, que ainda tem o arroz e o milho, como outras culturas fortes. Já a Bahia é o único estado da região do Matopiba que prevê, já nos boletins mensais da Conab, crescimento da safra.

Conforme os dados, a colheita por lá deverá ser 1,8% maior que a do ano passado, com uma safra de mais de 10,3 milhões de toneladas de grãos, o que se caracteriza como a maior safra da região Nordeste. “A produção por lá continua em alta porque naquela região do extremo sul piauiense, que faz divisa com o estado baiano, onde fica a área do estado baiano no Matopiba, tem chovido mais, principalmente nas cidades de Baixa Grande do Ribeiro, Sebastião Barros, Júlio Borges”, ressaltou Alzir, ponderando, no entanto, que voltando a chover, a estimativa é que o setor piauiense registre uma colheita recorde acima novamente de 5 milhões de toneladas de grãos.

Já no Mato Grosso, que é maior produtor de grãos do país, a previsão, também, é de queda na safra deste ano, segundo a Conab. A estimativa, conforme o último levantamento, é que o setor do Estado deva colher menos de 74 milhões de toneladas de grãos, ou seja, 1,3% a menos que o registrado em 2020. E para piorar ainda mais a situação do estado mato-grossense, a escassez de chuvas tem afetado, também, o setor da pecuária. Por falta de chuvas, os pastos secaram e o gado se alimentou pouco. Com isso, o abate dos animais foi feito de forma antecipada, com pouco peso.

“Ano passado já havíamos tido problemas com a falta das chuvas, por isso, o nosso lençol freático não encheu como o necessário e se refletiu nesse ano, agravado com as poucas pancadas de chuvas”, justifica Francisco de Sales Manzi, diretor da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), ressaltando que esses problemas, mais a questão do aumento dos insumos utilizados na alimentação do rebanho, como o milho, principalmente, fez com que o produtor tivesse dificuldade em alimentar os animais e assim mandá-los antes do tempo para o abate. (L.P.)

Falta de pasto para alimentar o gado

Mato Grosso que, também, tem o maior rebanho bovino do país, com quase 31 milhões de cabeças, não encontrou pasto para alimentá-los desde o final do ano passado. De acordo com o dirigente, um dos motivos é que mesmo sendo o maior rebanho do país, é bastante pulverizado com criadores tendo, no máximo, 250 cabeças. “Quase 82% dos criadores no Estado estão nessa condição. E como eles enfrentaram muita dificuldade por conta da escassez de água, tiveram que mandar para o abate animais com 15, 16 arrobas, quando o ideal é fazê-lo entre 22 e 23 arrobas. Tudo para não perdeu o animal”, destacou.


Mato Grosso tem na verdade 107 mil criadores de bovinos, dos quais a maioria é considerado de pequeno porte, por ter, no máximo, 250 cabeças. Porém, caso o Estado fosse independente do Brasil, teria o nono maior rebanho bovino do planeta. E a maior parte dessa carne produzida por lá tem como destino, o mercado exterior, principalmente Estados Unidos, China e países da Europa. “Mas, estamos perdendo competitividade por causa da falta de chuvas que encarece os insumos e deixa o valor da arroba mais caro. Sem falar que o Estado ainda tem mais de 62% de cobertura vegetal nativa”, finaliza Francisco Sales.

Fonte: Meio Norte
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